Poema “Menor abandonado”, de Cora Coralina
Narração:Carmem Imaculada de Brito
Poema “Menor abandonado”, de Cora Coralina
Versos amargos para o Ano Internacional da criança 1979
De onde vens criança?
Que mensagem trazes de futuro?
Por que tão cedo esse batismo impuro que mudou o teu nome?
Em que galpão, casebre, invasão, favela, ficou esquecida tua mãe?…
E teu pai, em que selva escura se perdeu, perdendo o caminho do barraco humilde?
Criança periférica rejeitada…
Teu mundo é um submundo.
Mão nenhuma te valeu na derrapada.
Ao acaso das ruas – nosso encontro.
És tão pequeno… E eu tenho medo.
Medo de você crescer, ser homem.
Medo da espada dos teus olhos…
Medo da tua rebeldia antecipada.
Nego a esmola que me pedes.
Culpa-me tua indigência inconsciente.
Revolta-me tua infância desvalida.
Quisera escrever versos de fogo,
e sou mesquinha.
Pudesse eu te ajudar, criança estigma.
Defender a tua causa, cortar tua raiz chagada…
És o lema sombrio de uma bandeira que levanto,
Pedindo para ti – Menor Abandonado,
Escola de Artesanato – Mater et Magistra
que possam te salvar,
Te deter a tua queda.
Ninguém comigo na floresta escura…
E o meu grito impotente se perde na acústica indiferente das cidades.
Escola de Artesanato para reduzir
o gigantismo enfermo
da criança enferma
é o meu pedido de socorro.
Estou sozinha na floresta escura
e o meu apelo se perdeu inútil
Na acústica insensível da cidade.
És o infante de um terceiro mundo
em lenta rotação para o encontro
do futuro.
Há um fosso de separação entre três mundos.
E tu – Menor Abandonado,
és a pedra, o entulho e o aterro desse fosso.
Quisera a tempo te alcançar,
mudar teu rumo.
De novo te vestir a veste branca
de um novo catecumeno.
És tanto e tantos teus irmãos na selva densa…
E eu sozinha na cidade imensa!
“Escolas de ofício Mãe e Mestra”
para tua legião.
Mãe para o amor.
Mestra para o ensino.
Passa, criança…
Segue o teu destino.
Além é o teu encontro.
Estarás sentado, curvado, taciturno.
Sete “homens bons” te julgarão.
Um juiz togado dirá textos de Lei
que nunca entenderás.
– Mais uma vez mudarás de nome.
E dentro de uma casa muito grande e muito triste – serás um número.
E continuará vertendo inexorável
a fonte poluída de onde vens.
Errante cansado de vagar,
dormirás comum rafeiro
enrodilhado, vagabundo, clandestino na sombra das cidades que crescem sem parar.
Há um fosso entre três mundos.
E tu, Menor Abandonado,
és o entulho, as rebarbas e o aterro desse fosso.
Acorda, Criança,
Hoje é teu dia…
Olha , vê como brilha lá longe,
na manchete vibrante dos jornais,
na consciência heróica dos juízes,
no cartaz luminoso da cidade,
o Ano Internacional da criança menor abandonado
Cora Coralina no livro “Poemas dos becos de Goiás e estórias mais”, Editora global.
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Edição e Divulgação: Frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs, do CEBI, do SAB e da assessoria de Movimentos Populares, em Minas Gerais. Acompanhe a luta pela terra e por Direitos também via www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com www.cebimg.org.br – www.cptmg.org.br – www.cptminas.blogspot.com.br
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