Manifesto da Caravana Cultural e Ecológica da 20ª Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais.
Foto: Carlos Farias. Pré-Romaria da 20a Romaria das águas e da terra de Minas Gerais, em Bonfinópolis de Minas, dia 01/7/2017.
Nós, os cantores Carlos Farias e Wilson Dias, e frei Gilvander Luís Moreira fomos protagonistas de uma turnê musical pela região noroeste de Minas Gerais, que nos levou a percorrer os caminhos do sertão, participando de uma série de reuniões comunitárias e realizando sete shows “Eco Lógico”, entre os dias 28/6/2017 a 23/7/2017, nas cidades de Três Marias (28/06), Paracatu (29/06), João Pinheiro (30/06), Bonfinópolis (01/07), Arinos (02/07), Uruana de Minas (05/07) e Unaí (23/07). Os dois cantores apresentaram um repertório autoral, buscando contribuir para a disseminação de uma cultura de paz, baseada no respeito à natureza, nos direitos humanos universais e na justiça social e ambiental.
O principal objetivo da Caravana foi motivar e preparar as pessoas para a participação na 20ª Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais, importante evento realizado em Unaí, no dia 23 de julho de 2017. Tendo como tema: “Povos da Cidade e do Sertão Clamando por Água, Terra e Pão”; e como lema: “Povos, Rios, Veredas e Nascentes são Dons de Deus em Romaria e Resistência”, a 20ª Romaria cumpriu o seu papel: semeou mística da luta em defesa da mãe terra, da irmã água, dos povos e de toda a biodiversidade.
Como resultado dessa turnê, além de recebermos hospitalidade, aplauso e carinho de centenas de pessoas, constatamos o alto grau de degradação do bioma cerrado e do ecossistema que o envolve, numa região considerada “caixa dágua” de Minas: rios secos ou com baixo volume de água, devido ao uso abusivo de pivôs na irrigação de monoculturas de cana, soja, milho, capim, além de extensas plantações de eucalipto e mineração devastadora. A ênfase no agronegócio, que engorda a conta bancária de empresas e de alguns privilegiados, não esconde os malefícios advindos dessa política predatória: contaminação do lençol freático e dos alimentos pelo uso de agrotóxicos; espantoso aumento da incidência de câncer e de outras doenças em toda a região noroeste de MG; morte de animais, extinção de espécies vegetais, seca prolongada, desertificação, desemprego (devido ao alto grau de mecanização nas grandes lavouras), conflitos agrários, violência no campo e nas cidades. Os rios Urucuia, Paracatu e Preto estão à míngua e o Rio São Francisco por um fio…
Infelizmente, essas mesmas práticas acontecem em outras regiões de Minas Gerais e do Brasil, com a cumplicidade do poder público/órgãos ambientais, afetando outros biomas, esgotando e poluindo as águas, expulsando populações ribeirinhas, indígenas, quilombolas, raizeiros, geraizeiros, vazanteiros, quebrando tradições e conhecimentos seculares.
Nessa turnê cultural e ecológica, tivemos a oportunidade de visitar uma família de agricultores no Assentamento Elói Ferreira da Silva, um dos 27 assentamentos de reforma agrária, no município de Arinos. Mesmo com a crônica falta d’água, o agricultor está conseguindo revitalizar nascentes e produzir alimentos saudáveis, utilizando adubo orgânico e sementes crioulas. Ele e dezenas de famílias vivem e trabalham na contramão do agronegócio, provando que a agricultura familiar com agroecologia gera emprego, renda e preserva o meio ambiente.
Para nós artistas comprometidos com as causas populares, a solução passa pelo respeito à natureza, por democratização e justiça socioambiental. Para isso, o país precisa rever as políticas que privatizam a irmã água e os frutos da mãe terra, beneficiando excessivamente os donos do capital (nacional e internacional) em detrimento do bem estar da maioria do povo brasileiro. A Mãe Terra não é mercadoria e o Brasil não merece ficar nas mãos de picaretas e suas políticas excludentes.
Pela vida de todos! Nenhum direito a menos! Que cresça a luta pela construção de uma sociedade com justiça social e ambiental!
Nota: A Caravana Cultural contou com o apoio da Comissão Pastoral da Terra – CPT/MG, Diocese de Paracatu, Cáritas Diocesana de Paracatu, SEDA – Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário – e de dezenas de pessoas de boa vontade, em toda a região. Os artistas Carlos Farias e Wilson Dias, e frei Gilvander agradecem o carinho e a participação de todos.
Belo Horizonte, MG, Brasil, 16 de agosto de 2017.
Foto: Carlos Farias. Vereda José Moreira de Souza, em Arinos, MG, dia 03/7/2017.