Assentamento popular Terra Prometida, em Felisburgo, MG, recebe comissão de juízes para visita técnica

Assentamento popular Terra Prometida, em Felisburgo, MG, recebe comissão de juízes para visita técnica

Território onde cinco Sem Terras foram assassinados no baixo Jequitinhonha segue em conflito judicial a mais de 19 anos

Fonte: https://mst.org.br/2023/12/05/assentamento-popular-terra-prometida-recebe-comissao-de-juizes-para-visita-tecnica/

5 de dezembro de 2023

Foto: Lídia Delvale/Eni. Por  Matheus Teixeira e Kelly Gomes Da Página do MST

A terra ela é sagrada nas mãos de quem trabalha a terra, suor, vida trabalho e terra o direito a terra e de quem trabalha“ (Encantar da terra sagrada, Dércio Marques)

No último sábado, dia 02 de dezembro, o assentamento popular Terra Prometida, local onde se passou o massacre de Felisburgo, recebeu os juízes do Tribunal de justiça de Minas Gerais, do Conselho Nacional de Justiça, da Vara Agrária, Incra, Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Promotoria Agrária para uma visita técnica. A mesma teve como objetivo conhecer as famílias que ali residem e colocar em pauta a solução do conflito que perdura até os dias de hoje.

A comissão de juízes apresentou a importância de atuarem em conjunto para o avanço na mediação voltada à solução dos conflitos e estabelecerem uma conexão com as famílias. Propondo um canal de diálogo para a solução do conflito, foram realizadas visitas técnicas nas casas das famílias com objetivo de ouvir cada pessoa sobre sua vida nesse território.  As atividades foram finalizadas com um almoço coletivo e a promessa de retornarem à área para dar continuidade ao proposto.

Foto: Lídia Delvale/Eni

Como parte da cultura Sem Terra, a mística que recebeu a comissão retratou a resistência e luta do povo que mora no assentamento popular Terra Prometida, emocionando os presentes e resgatando o lema: “Terra para quem nela trabalha”. No ato, estiveram  presentes representantes de outras comunidades parceiras que reconhecem a legitimidade da luta do povo Sem Terra, como a comunidade Quilombola Paraguai, que realizou uma apresentação do batuque. Um memorial, símbolo da luta dos 5 mártires, foi construído para que a luta de Manoel, Joaquim, Francisco, Iraguiar e Juvenal, jamais caia no esquecimento.

Terra Prometida: uma história de luta e resistência

No dia 01 de maio de 2002, o Movimento Sem Terra realizava uma grande marcha na cidade de Felisburgo-MG, e no dia 27 de maio do mesmo ano ocupava a fazenda Nova Alegria. Com cerca de 210 famílias, a ocupação foi um marco da luta pela terra na região do baixo Jequitinhonha, e muitas famílias que participaram da ocupação estavam retornando a terra onde nasceram e foram criadas. A ocupação mexeu com a herança coronelista da região e simbolizou o resgate da dignidade perdida por muitos camponeses(as) que foram expulsos das suas casas. 

Jorge Rodrigues, que nasceu e cresceu na fazenda Nova Alegria, relata que a terra foi palco de desmatamento ilegal pelo Adriano chafick. Jorge foi uma das famílias  expulsas da fazenda sem direito a nada. “Trabalhei muito nessa terra e já estava pra me casar quando fui mandado embora com 26 anos de idade, eu não recebi nada, meu pai que também trabalhou a vida toda recebeu um cavalo e uma quantia em dinheiro, mas nós queríamos era o direito de ter um pedacinho de terra aqui, ao retornar na ocupação da terra realizo o sonho ter um pedaço de terra digno de viver.”

Foto: Lídia Delvale/Eni

Durante dois anos seguidos, a comunidade viveu sob constante ameaças por parte do grileiro de terras Adriano Chafik, como relata Maria gomes “Quando nós ocupamos essa fazenda a gente já sabia que estávamos enfrentando um grande latifundiário que a família toda sempre usou essa terra de forma indevida expulsando trabalhadores, grilando e ameaçando os campesinos, essas tantas ameaças que sofremos demonstra isso.”

Massacre de Felisburgo

No dia 20 de novembro de 2004, o grileiro de terras Adriano Chafick ordenou e executou o chamado “Massacre de Felisburgo”. 

A manhã corria mansa e ensolarada, com uns tratando da bicharada em um sábado de sol quente, quando não mais que de repente um tiro que ninguém espera. Foram assassinados cinco Sem Terras: MIGUEL, JOAQUIM, JUVENAL, IRAGUIAR, FRANCISCO, todos negros, trabalhadores e pais de famílias. Iraguiar deixou uma mulher grávida de 8 meses.

A resistência é uma forte marca das famílias que vivem na constante luta pelo acesso ao direito à terra. O assentamento popular de resistência, Terra Prometida, segue desenvolvendo a produção de alimentos saudáveis e diversificados, formando novos sujeitos com a escola que vai do pré ao quinto ano, resgatando cultura e defendendo a vida com  pauta central.

Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!

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