O POVO KRENAK PÕE O DEDO NA FERIDA SOBRE O CRIME DA VALE/SAMARCO/BHP/ESTADO: o de 05/11/2015 que continua.
Djukurnã Shirley Krenak: “A mineradora Vale matou nosso rio, matou nossa cultura, mas não pode matar nosso espírito”.
Padre Dário Bossi entrevista Djukurna Shirley Krenak, no Seminário ECOTEOLOGIA E MINERAÇÃO, em Mariana, MG, dia 06/11/2017.
“Todos os processos da nossa vida foram feitos através do rio. Caça, pesca, nossa comunidade. Tudo foi feito dentro das águas do Rio Doce – foi o nosso “Huatú”, que em nosso idioma significa correr rio. Hoje, não temos mais isso. Não temos como viver os processos de nossa cultura porque nosso “Huatú” está morto”, denuncia Shirley.
Em 5 de novembro de 2015, a barragem do Fundão quebrou no município de Mariana, Minas Gerais, Brasil. Mais de 55 milhões de metros cúbicos de resíduos de minério de ferro da empresa Samarco Mineração SA, empresa de capital compartilhado controlada igualmente pela BHP Billiton Brasil Ltda anglo-australiana. E o brasileiro Vale SA formou uma torrente de lama que destruíram aldeias, 349 casas, escolas e igrejas e contaminaram o rio Gualaxo do Norte, o rio Carmo e o rio Doce. 19 pessoas morreram e milhões de pessoas foram afetadas direta ou indiretamente.
O que o rio significa para nós mestiços ou para o mundo branco? O rio é simplesmente um pouco de água. Para Djukurnã e seu povo, Krenak não é apenas sobre a água.
“Para nós, o rio é um ser humano que está sempre lá e está nos ajudando. Mas agora nosso rio, nosso “Huatú”, está morto. Esse foi o impacto mais violento e severo para o nosso povo”, diz ela, angustiada e com um nó na garganta. Aqueles de nós que já perderam um ente querido podem sentir a dor acumulada de Shirley e seu povo que choraram até que seus olhos se secaram pela morte de seu amado rio. Recuperando do duelo que ainda aperta seu espírito que nunca envelhecerá – porque isso significa seu nome indígena “Djukuna” -, ele afirma que o povo está de luto, mas ainda vivo “, a mineradora VALE não conseguiu nos exterminar”.
“Depois que o crime aconteceu e matou nosso rio e os seres que dependiam disso, as pessoas sofreram muito. Até agora, estamos tentando nos adaptar a um novo estilo de vida, adaptar-se a uma nova maneira de ver as coisas, adaptar-se a uma nova maneira de procurar que a consciência espiritual não termine, não se altera completamente”, afirma.
O povo Krenak, como todos os povos indígenas, tem um relacionamento muito próximo com a Mãe Terra. Porque “Kren” significa cabeça e “nak” significa terra, explica Djukurnã Shirley. Aderindo ao seu espírito de resistência e sabedoria ancestral, Djukurnã e a comunidade de Krenak não perderam a esperança de resistir à morte imposta pela mineradora Vale naquela região.
“Nós somos um povo nascido da Mãe Terra. Nós somos terra, somos criados a partir da Terra. E o que aconteceu com o nosso rio, nos causou uma grande tristeza, uma tristeza dentro da nossa alma, uma tristeza profunda no nosso espírito.
Após o crime de Huatú aconteceu, diversos eventos começaram a aparecer em várias reuniões com a participação de alguns membros da comunidade. Sua participação deu origem a duas questões que devemos continuar refletindo hoje. “Foi necessário que esse crime acontecesse com o nosso rio para que as pessoas compreendam o quanto somos importantes? Quanto importante são as populações indígenas? Sabemos que somos a minoria na população brasileira, mas essa minoria é o que garante a sua vida, o que garante a vida da sociedade branca. Nós vamos às reuniões, ocupamos esses espaços e lugares para falar sobre o quão importante é defender e preservar a Mãe Natureza, porque a partir daí venho e nos sustenta”, questiona Djukurnã Shirley Krenak.
De acordo com a consultoria americana Bowker Associates, o derramamento de milhões de metros cúbicos de lama (estimada entre 42 e 62 milhões de m³), a extensão da destruição de 680 km eo dano – calculado entre 5 e 55 bilhões de m. dólares – fazem de Mariana o pior desastre global da história da mineração.
Desde o desastre de Mariana e o crime de “Huatú”, Shirley Krenak e seus irmãos e irmãs, continuam participando de várias reuniões para falar, denunciar e explicar a necessidade de defender o meio ambiente e os direitos humanos.
“Os povos indígenas estão ocupando esses espaços, porque a luta continua. Mesmo antes de todo esse processo, porque já sabíamos que isso aconteceria a qualquer momento, dado que o homem branco só procura o seu ganho e não nos escuta. Então, estamos fazendo presença e ocupamos esses lugares, para que as pessoas façam resistência, para que as pessoas valorizem a natureza. Estamos fazendo resistência ao ocupar, ouvindo nossa palavra”, diz Shirley.
Após este crime que chorou as comunidades e os povos de Mariana, os Krenak também tomaram lições que fortaleceram sua espiritualidade, diz Djukurnã Shirley Krenak. Lições aprendidas que não são apenas para os povos indígenas e amazônicos, mas para todos, negros, brancos e mestiços.
“Você, como ser humano, pode fazer o que quiser com a natureza. Mas ela, que veio das mãos sagradas de nosso Tupã, nosso Deus, tem a capacidade de regenerar-se. Ela regenera porque está viva, ela é a vida. E você que está na natureza e destrói e acaba a natureza, como você é de carne, um dia morrerá e não retornará. Quando ele não tem a espiritualidade para reconhecer seus erros, ele não é perdoado, ele morre e acabou. Nós, como povos indígenas, temos um lugar seguro para nós. Vamos subir, teremos nosso mundo, vamos subir. Mas aquele que destrói o mundo e destruirá a natureza será terminado e não terá espaço. Nem na espiritualidade nem na terra”.
Assista abaixo o Testemunho contundente, profético e revolucionário de djukurnã Shirley Krenak no Seminário sobre ECOTEOLOGIA E MINERAÇÃO, dia 05/11/2017, no município de Mariana, MG, próximo à lama tóxica das Mineradoras.
Quem no chão, integra com ele, tratando-o com cuidado, tem ar para respirar, tem água para beber, tem acordo com alta espiritualidade. Vive. Vive de bem.Corre, nada, passeia, vê o Jardim. Respeito o assunto de
djurkunā shirley krenak a respeito de ecoteologia.Que
seu ispirito nos convença pronunciando a verdade em palestras.