Poema “Os policiais e os guardas”, deRoque Dalton
Narração: Carmem Imaculada de Brito
Poema “Os policiais e os guardas”, de Roque Dalton
Sempre viram o povo
como um amontoado de costas que corriam para lá
como um campo para deixar cair com ódio seus bastões.
Sempre viram o povo com o olho de afiada a pontaria
e entre o povo e o olho
a mira da pistola e do fuzil.
(Um dia também eles foram povo
mas com a desculpa da fome e do desemprego
aceitaram uma arma
um bastão e um soldo mensal
para defender os esfomeadores e os desempregadores)
Sempre viram o povo aguentando
suando
vociferando
levantando cartazes
levantando os punhos
e ainda mais lhes dizendo:
“Vira-latas filhos da puta seu dia vai chegar.”
(E cada dia que passava
eles acreditavam que haviam feito um grande negócio
ao trair o povo do qual nasceram:
“O povo é um monte de fracos e imbecis – pensavam-
ótimo termos passado para o lado dos fortes”).
E então era apertar o gatilho
e as balas iam do lado dos policiais e dos guardas
contra o lado do povo
assim iam sempre
de lá para cá
e o povo caia ensanguentado
semana após semana ano após ano
de ossos quebrados
chorava através dos olhos de mulheres e crianças
fugia espantado
deixava de ser povo para ser boiada em fuga
desaparecia na forma do cada um por si até em casa
e então nada mais
além dos bombeiros lavando o sangue das ruas.
(Os coronéis acabavam convencendo-os
“É desse jeito rapazes – diziam-lhes –
duro e na frente dos civis
fogo contra a multidão
vocês são também os pilares uniformizados da Nação
sacerdotes do baixo clero
no culto à bandeira ao escudo ao hino às autoridades
da democracia representativa do partido oficial e do mundo livre
cujos sacrifícios não há de esquecer a gente de bem desse país
ainda que por hoje não possamos aumentar o soldo
apesar desse ser nosso desejo”).
Sempre viram o povo
aleijado na sala de tortura
enforcado
espancado
fraturado
inchado
asfixiado
violado
com agulhadas nos olhos e ouvidos
eletrocutado
afogado em urina e merda
cuspido
degradado
soltando um pouco de fumaça de seus restos mortais
no inferno de cal viva
(Quando apareceu morto o décimo Guarda Nacional
Morto pelo povo
e o quinto policial foi enquadrado pela guerrilha urbana
os policiais e os Guarda Nacionais começaram a pensar
sobre tudo porque os coronéis já mudaram de tom
e hoje à cada fracasso a culpa repousa
nos “elementos da tropa tão moles que nós temos”).
O fato é que os policiais e os guardas
sempre viram o povo de lá para cá
e as balas só iam de lá para cá.
Que pensem sobre isso um pouco mais
que eles mesmos decidam se está tarde demais
para procurar o lado do povo
e atirar de lá
ombro à ombro conosco.
Que pensem bem sobre isso
entretanto
que não se mostrem surpreendidos
muito menos se façam de ofendidos
hoje que algumas balas
começam a chegar-lhes deste lado
onde segue estando o mesmo povo de sempre
só que agora vindo de cabeça erguida
e trazendo cada vez mais fuzis.
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Edição e Divulgação: Frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs, do CEBI, do SAB e da assessoria de Movimentos Populares, em Minas Gerais. Acompanhe a luta pela terra e por Direitos também via www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com www.cebimg.org.br – www.cptmg.org.br – www.cptminas.blogspot.com.br
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