CAMPANHA DA FRATERNIDADADE II – Por Padre Waldemir Santana, da Arquidiocese da Paraíba

A questão ecológica pode ser tratada de vários pontos de vista. Pode ser do ponto de vista puramente técnico, pode ter um conteúdo mais ideológico e político, mas também podemos tratar essa problemática do ponto de vista teológico. Cada enfoque tem um interesse determinado. A tecnologia e as ciências da natureza se desenvolvem sempre a partir de interesse humano. Os interesses humanos são regulados por valores fundamentais e convicções de uma determinada sociedade. Do tipo de relação que se estabelece com a sociedade humana e com a natureza circundante, se produz uma crise de morte da natureza e logicamente se converte em uma crise de todo sistema de vida.
Que interesses, que valores regulam nossa civilização técnico-cientifica? De maneira muito simples podemos dizer que é o ilimitado desejo de domínio que impulsiona e continua impulsionando o homem moderno a tomar posse da natureza e da terra. Numa suposta luta pela existência, a vontade política se vale dos conhecimentos científicos e inventos técnicos para exercer o poder e assim assegurá-lo e expandi-lo.
Como frear tamanha destruição da natureza? O ambientalismo tradicional enfrenta essa questão buscando manter áreas de florestas para proteção e recreação. Nesta perspectiva os problemas de proteção e utilização dos recursos naturais, que explica a evolução da humanidade, são muito complexos, por isso, as propostas conservacionistas não contribuem para o melhoramento da qualidade de vida do ser humano nem tampouco garante os equilíbrios ecológicos para a vida do homem na terra.
A Campanha da Fraternidade tendo como elemento inspirador a Ladauto Sí, propõe o caminho da ecologia integral. Esse enfoque é mais atrativo quando se reflete sobre a problemática ambiental nas suas várias vertebrações. A perspectiva integral tem uma visão mais cosmocêntrica, diferente do enfoque conservacionista e do ambientalismo produtivista. No enfoque da ecologia integral, o homem na sociedade é um dos elementos fundamentais.
Essa corrente prefere falar de um desenvolvimento sustentável e participativo que se opõe ao discurso economicista dominante. Questiona o empobrecimento dos ecossistemas que está ocorrendo na atual sociedade de consumo, dentro da qual, o homem atua sobre o entorno natural para além de suas necessidades, tanto na exploração dos recursos como na acumulação do excedente.
A ecologia integral parte do conhecimento dos equilíbrios da natureza e sua estreita relação com a sociedade, aponta a identificação dos problemas ambientais, sua origem, suas causas e as suas possíveis soluções. Assim a contaminação do ar e da água, a insalubridade, a fome e o povoamento nas cidades que afetam os pobres aparecem como problemas que se originam nos desequilíbrios socioeconômicos e ecológicos. A ecologia integral também implica profundas mudanças nas atitudes individuais e sociais, o que permite uma relação harmônica entre a natureza e as estruturas socioeconômicas. A concepção da ecologia integral se interessa por um estilo de desenvolvimento diferente, que permita e fomenta a interação dentro de um equilíbrio dinâmico entre a natureza e a sociedade
A ecologia integral é defensora da vida em todas as suas manifestações. A sociedade atual condena à morte a maioria de seus membros. O direito a vida implica no direito de viver em uma sociedade em que cada um dos seus membros possa satisfazer suas necessidades básicas. Não há dúvida de que o direito à vida é incompatível com a existência de uma sociedade burguesa capitalista. Toda pessoa que defende a ecologia integral tem que ser anticapitalista. O capitalismo canibal para usar uma expressão de Nancy Fraser, é destruidor da vida no planeta. A questão da vida ou morte irá nos acompanhar ao longo do século XXI. A máquina de morte já construída pode obstaculizar toda aventura na terra. A terra está doente, porque nós seres humanos também estamos doentes. É trágico o fim que nos espera se não mudarmos a rota da nossa navegação por este planeta.
Ecologia é mais que gerenciamento racional dos recursos escassos da natureza. Ela é acima de tudo uma nova relação que estabelecemos com a natureza e com a realidade total. Tudo está em relação e nada existe fora da relação. A única coisa que a natureza pede ao ser humano é um ato de amor e de compaixão para tudo e com todos.