20 DE NOVEMBRO, DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA QUILOMBOLA. COMEMORAR?

20 DE NOVEMBRO, DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA QUILOMBOLA

A PARTIR DE 2024, É FERIADO NACIONAL. VAMOS COMEMORAR?

Autoria: Movimento das Comunidades Populares (MCP)

3º Encontro de Formação do Movimento das Comunidades Populares (MCP), no Instituto Padre João Geisen, na cidade de São Lourenço da Mata, na região metropolitana de Recife, PE. Foto: José Alves, do MCP.

20 DE NOVEMBRO, DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA QUILOMBOLA

A PARTIR DE 2024, É FERIADO NACIONAL. VAMOS COMEMORAR?

Autoria: Movimento das Comunidades Populares (MCP)

O governo e a rede Globo deverão fazer a festa em defesa da “raça” negra para incluir as lideranças de origem africana nos cargos de direção de órgãos públicos e empresas privadas, e não apenas no futebol e na arte. Para isso, é preciso ampliar as cotas universitárias para os negros.

Após quase 400 anos de escravidão e de 100 anos de desprezo pelos seus descendentes, o Projeto Pirâmide (capitalista) resolveu incluir os negros na Constituição Federal de 1988. Surge a Fundação Cultural Palmares.

No passado, a extrema-esquerda já quis homenagear o Quilombo dos Palmares criando o grupo guerrilheiro VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares). Foram esmagados pela extrema-direita durante a ditadura militar-civil-empresarial.

Com a volta da democracia eleitoral e a chegada do Projeto Quadrado (esquerda eleitoral) ao governo, Palmares volta à tona. Surge, então, o Dia da Consciência Negra Quilombola, comemorado no dia 20 de novembro, data em que Zumbi dos Palmares foi assassinado. Isso por não aceitar acompanhar seu tio Ganga Zumba que havia feito um acordo com os escravistas que beneficiava parte dos lutadores, mas acabava com o Quilombo dos Palmares.

E nós, do Movimento das Comunidades Populares (MCP), que defendemos o Projeto Redondo (sociedade comunitária), como vamos comemorar o Dia da Consciência Negra? Nossa consciência é só negra ou é também quilombola?

SUBSÍDIO PARA O DIA 20 DE NOVEMBRO

OS AFRICANOS ESCRAVIZADOS NO BRASIL

Dos cinco milhões de indígenas que havia no Brasil, cerca de quatro milhões foram exterminados. Em pouco tempo, começaram a ser substituídos por quatro milhões de negros trazidos à força da África para serem escravizados no Brasil.

Diferente dos imigrantes que vieram depois para trabalhar no Brasil, cheios de esperança de melhorar sua vida no novo mundo, os africanos foram sequestrados ou comprados na África e trazidos à força para o Brasil, para trabalhar como escravos. A própria travessia do Oceano Atlântico era um martírio. Marcados a ferro quente como gado, com o nome do seu dono, eram jogados nos porões dos navios negreiros.[1] Muitos morriam na viagem e eram jogados no mar.

Nos portos de Salvador, Rio de Janeiro e Recife, eram vendidos para os fazendeiros que os levavam para trabalhar nas lavouras e engenhos de açúcar, fazendas de café, minas de ouro etc.. Muitos ficaram nas cidades trabalhando em serviços urbanos: carregadores, domésticos, ambulantes, artesãos etc.. Longe da terra natal, sem família, morando em senzalas como animais, trabalhando como escravos, castigados diante de qualquer reclamação. Doía o corpo e a alma. Só o batuque, o samba de roda, a capoeira e os Orixás poderiam amenizar a dor do corpo ferido pelo trabalho e pelas chibatadas e a dor da alma pela saudade dos parentes que ficaram ou foram separados depois que foram obrigados a trabalhar como escravos no Brasil. Doía a alma da mãe preta que amamentava o filho do seu patrão antes de amamentar seu próprio filho. A nega cheia de amor para dar para o seu nego, mas que antes era obrigada a satisfazer sexualmente o dono da fazenda e dos negros escravizados.

Alguns se desesperavam e se suicidavam. Outros matavam o feitor (chefe, encarregado), como na Revolta de Carrancas no sul de Minas Gerais. Outros passavam para o lado do patrão e se transformavam em capitães-do-mato, para caçar negros escravizados fugidos. Mas, havia também os que organizavam os levantes contra a escravidão. Um exemplo foi a Revolta dos Malês, em Salvador, BA, em 1835, liderada pelos negros escravizados que foram alfabetizados em árabe, na África, pela religião islâmica, da qual eram adeptos.

Diferente dos indígenas, os negros escravizados não tiveram o apoio da Igreja Católica. Aderir ao catolicismo era aceitar a escravidão, já que a Igreja estava junto com o Império Português na ocupação e dominação do Brasil.

Após 300 anos de escravidão nas Américas e no Brasil, na ilha caribenha do Haiti, em 1804, os escravos fizeram uma revolução. Expulsaram os franceses que dominavam a ilha e acabaram com a escravidão. Até hoje, o Haiti está pagando por essa ousadia de querer ser livre e independente.

No Brasil, muito antes da Revolução Haitiana, os escravos descobriram uma forma diferente de fazer a revolução libertadora. Foram os famosos Quilombos. Os escravos fugiam para as matas, organizavam a economia coletiva, os governos independentes, inclusive com autodefesa. Desenvolviam sua cultura com arte, religião e conhecimentos trazidos da África ou adquiridos na experiência vivida na escravidão. Porém, independente da ideologia e do sistema escravista.

Foram milhares de Quilombos organizados pelos negros escravizados fugidos, em todo o Brasil. O mais conhecido foi o Quilombo dos Palmares, na Capitania de Pernambuco (hoje Estado de Alagoas, Município de União dos Palmares). Durou quase 100 anos (de 1597 a 1695), com cerca de 20 mil habitantes. Até hoje é um exemplo de Poder Popular, embora o Projeto Quadrado, junto com o Projeto Pirâmide, tenha transformado o dia 20 de novembro e o nome de Zumbi em uma bandeira simplesmente antirracista.

Segundo frei Gilvander Luís Moreira, no livro CPT e MST: E A (IN)JUSTIÇA AGRÁRIA? Experiências de luta da CPT e do MST: “Seguindo ordem do governador da capitania de Minas Gerais, José Antônio Freire de Andrade, a expedição chefiada pelo paulista capitão-mor, capitão do mato, Bartolomeu Bueno do Prado, destruiu com requinte de crueldade um grande número de quilombos nas regiões do Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro e Sudoeste de Minas Gerais, entre eles, em 1756, o quilombo do Rio Grande. Nina Rodrigues se refere à destruição do quilombo do Rio Grande como “circunstância bárbara e repugnante” pelo fato de, além da mortandade perpetrada, ter “Bartolomeu Bueno trazido como troféu da vitória 3900 pares de orelhas tiradas aos negros destroçados e mortos” (RODRIGUES, 1988, p. 96).”[2]

Hoje, no Brasil, existem 494 territórios quilombolas oficialmente delimitados em 24 estados brasileiros e no Distrito Federal. Só não há registro no Acre e Roraima. A Fundação Palmares mapeou 3.524 comunidades quilombolas. Outras fontes falam em cinco mil áreas de remanescentes quilombolas.

Segundo dados do IBGE-2024, são quase seis mil comunidades quilombolas. Apenas 147 tiveram seus títulos emitidos. A população quilombola, segundo o IBGE, é de 1 milhão e 300 mil pessoas. O Maranhão é considerado pela Fundação Palmares o estado com o maior número de Quilombos, 816. São 260 mil pessoas que vivem em 32 municípios maranhenses. A Bahia está em segundo lugar, com 500 comunidades quilombolas. Dessas, 381 já foram certificadas pela Fundação Palmares. A população quilombola da Bahia é estimada em 397 mil pessoas. Em Alagoas, existem 67 agrupamentos quilombolas e 103 áreas de interesse operacional (quilombola). A população, que se identifica como quilombola em Alagoas, é de 37.722 pessoas. Mas, apenas 691 vivem em territórios quilombolas.

Citamos esses três estados como exemplo, mas o MCP de cada estado deveria pesquisar esses dados do seu estado e transformá-los em um gráfico, colocando em um banner, para ficar exposto nos locais de reunião, para ser usado nos debates dos quatro Setores do Povo, para debater o Projeto Redondo. Deveria fazer o mesmo com as populações indígenas em cada estado.

PERGUNTAS:

  1. O que é um quilombo?
  2. Como surgiu o Quilombo dos Palmares? Que lições ele nos ensina?
  3. Quantos quilombos existem em nosso estado?
  4. Como aproveitar o Dia da Consciência Negra, que a partir deste ano é feriado nacional, para desenvolver a Consciência Quilombola, e não apenas Negra?

POESIA – CONSCIÊNCIA QUILOMBOLA[3]

Minha consciência é mais que negra, é também quilombola,

Só com justiça, paz e igualdade, seremos livres do que nos assola.

Minha consciência é mais que negra, é também quilombola

Não quero ir para a faculdade, enquanto todos não forem à escola.

Minha consciência é mais que negra, é também quilombola

Não vou viajar para Miami, enquanto não conhecer Angola.

Minha consciência é mais que negra, é também quilombola,

Para os pobres a gente dança, mas para o opressor “nós não rebola”.

Minha consciência é mais que negra, é também quilombola,

Não quero ser atleta profissional, quero ver a “negada” jogando bola.

Minha consciência é mais que negra, é também quilombola,

Não quero tocar piano, se meu nego não pode tocar viola.

Minha consciência é mais que negra, é também quilombola,

O opressor todo tempo me irrita, mas meu nego sempre me consola.

Minha consciência é mais que negra, é também quilombola,

Não adianta liberdade na lei, se na prática, o negro se esfola.

Minha consciência é mais que negra, é também quilombola,

Se Palmares me ilumina, Jabaquara não me enrola.

Minha consciência é mais que negra, é também quilombola,

Com indígenas, camponeses e operários, um dia, vamos cantar fora da gaiola!


[1] Leia o livro de Castro Alves O NAVIO NEGREIRO.

[2] Cf. RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1988 e MOREIRA, Gilvander Luís. CPT e MST: E A (IN)JUSTIÇA AGRÁRIA? Experiências de luta da CPT e do MST. Belo Horizonte: Ed. Dialética, 2021, pp. 127-128.

[3] Esta Poesia é produção coletiva do Movimento das Comunidades Populares (MCP).

One comment

  1. Com as CEBs ,os mestiços e causos , resistência, esperança e luta um dia poderemos cantar vitória

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