CHINA REJEITA AS RAÇÕES ANIMAIS PRODUZIDAS NO BRASIL – Por Antonio Lupo

CHINA REJEITA AS RAÇÕES ANIMAIS PRODUZIDAS NO BRASIL – Por Antonio Lupo[1]

Dr. Antonio Lupo

Fonte: https://comune-info.net/la-cina-respinge-i-mangimi-brasiliani /

Pequim suspende importações das rações animais do Brasil cultivada com pesticidas proibidos. Os países da União Europeia, onde essas rações brasileiras são usadas na agricultura intensiva (como as que devastam o ar no Vale do Pó), permanecem em silêncio porque os pesticidas, mesmo aqueles proibidos na União Europeia, mas usados nas monoculturas brasileiras e argentinas, são produzidos e vendidos por multinacionais europeias, como as alemãs Bayer-Monsanto e BASF e a suíço-chinesa Syngenta.

Há duas semanas, o Brasil de Fato, jornal muito próximo do MST (Movimento Sem Terra) e de

outros movimentos populares da América Latina, noticiou que a China havia decidido suspender as importações de soja de cinco empresas brasileiras devido à contaminação por agrotóxicos.

A notícia, infelizmente, ainda não circulou nos grandes meios de comunicação italianos, mas na web você pode encontrar o lançamento da Reuters em muitos sites brasileiros e também em alguns sites em inglês e francês (e até em um site italiano).

Segundo a Reuters, embarques da Cargill Agrícola S/A, ADM do Brasil, Terra Roxa Comércio de Cereais, Olam Brasil e Vale teriam sido afetados pela medida.

O artigo do Brasil de Fato, entre outras coisas, afirma: “Para Diana Chaib, economista e pesquisadora de relações sino-brasileiras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a decisão da China de suspender as importações de parte da soja brasileira pode ser interpretada como um alerta ao agronegócio brasileiro, principalmente no que se refere às preocupações sobre a necessidade de melhorar os controles de qualidade e rever práticas relacionadas ao uso de agrotóxicos…”.

Uma primeira consideração: a China produziu até agora muito pouca soja e milho transgênicos, o povo chinês está um pouco cauteloso, o governo até agora (mas está mudando sua orientação) tem preferido importá-los de países em “desenvolvimento perene”, como o Brasil (mas também a Argentina), que se tornou o maior produtor de soja transgênica por meio do desmatamento da Amazônia, tendo ultrapassado os EUA. O Brasil agora também é o maior exportador mundial de soja transgênica. O artigo especifica que “a China é o maior consumidor mundial de soja, respondendo por mais de 60% do comércio global deste grão… Quanto ao Brasil, dois terços de toda a soja produzida no país são enviados para o gigante asiático.”

Resumidamente, talvez o governo chinês tenha aberto os olhos, não quer mais ser enganado e deixar seus cidadãos doentes, que também querem comer carne, mesmo que por enquanto comam muito menos que os americanos: os chineses consomem pouco mais da metade (cada brasileiro 74 kg por ano, contra 126 kg, enquanto a média mundial é de 43 kg.

Em 2016, o governo chinês delineou um plano para reduzir o consumo de carne de sua população em 50%, mas o plano não parece estar funcionando muito bem.

Pelo contrário, a União Europeia e a Itália, onde essas rações brasileiras envenenadas e infectadas chegam e são usadas, continuam em silêncio, porque os pesticidas, mesmo aqueles proibidos na União Europeia, mas usados nas monoculturas brasileiras e argentinas, são produzidos e vendidos por empresas europeias, a alemã Bayer-Monsanto, a BASF e a suíço-chinesa Syngenta.

O artigo também afirma: “Em nota, o Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil (Mapa) afirmou que ‘as demais unidades das empresas notificadas continuam exportando normalmente para a China, com as suspensões valendo apenas para as 5 unidades oficialmente notificadas’.

Portanto, continua o ministério, ‘os volumes comercializados pelo Brasil não serão afetados por esta suspensão temporária destas 5 unidades notificadas’. Mas isso não é verdade: “as cinco unidades suspensas fazem parte de operações que responderam por mais de 30% das mais de 73 milhões de toneladas de soja exportadas do Brasil para a China em 2024”.

Alan Tygel, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, lembra que “há anos os movimentos agroecológicos vêm alertando sobre a qualidade dos produtos agrícolas brasileiros, baseados no uso de produtos químicos altamente tóxicos e danosos ao meio ambiente…O compromiso do Brasil nas últimas décadas em investir todos os seus recursos no agronegócio gerou esse tipo de dependência, tornando nosso país vulnerável a crises catastróficas caso os principais importadores decidissem por algum motivo se vingar do Brasil…”.

Chaib diz que o impacto dessa medida poderá ser medido pela duração do embargo ou por novas restrições a outros produtos brasileiros. “Isso pode impactar os preços domésticos da soja no Brasil e aumentar os custos da alimentação do gado, o que pode tornar a carne bovina brasileira menos competitiva no mercado internacional. Mas o impacto no comércio de carne bovina dependerá da extensão e da duração da suspensão da soja implementada pela China.

O Brasil é o maior consumidor mundial de pesticidas, superando a China e os Estados Unidos juntos. Em vez de desestimular o uso desses produtos químicos na produção agrícola, o Estado brasileiro oferece bilhões de reais em incentivos fiscais para empresas do mercado de agronegócio químico do país, incentivando seu uso (em 2019, Bolsonaro autorizou 152 novos pesticidas, ed.). Ainda neste artigo, a biomédica e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Karen Friedrich, chama a atenção para “os efeitos nocivos do uso extensivo de agrotóxicos na produção agrícola, além de todas as evidências de danos à comunidade. saúde e meio ambiente. E isso pode ter algo a ver com esses “acidentes” comerciais.

Essas substâncias são usadas há décadas e já estão desenvolvendo seus próprios parasitas, desenvolvendo resistência. É a mesma lógica dos antibióticos hospitalares. Ao usá-los de forma tão indiscriminada, eles desenvolveram bactérias super-resistentes. E na agricultura temos essas pragas que estão desenvolvendo resistência. Então isso não é bom para os agricultores e para o agronegócio. Isso é bom para as indústrias, para a Bayer, Basf, Monsanto, Syngenta etc., que estão tentando manter esse produto no mercado até o último segundo.”

Será que a crise econômica na Alemanha, um país atualmente em recessão, com a Itália e o Vale do Pó ficando para trás, com sua indústria dependente da Alemanha, nos fará abrir os olhos?

No relatório que acompanha o PDL 1760, que está em discussão desde julho de 2024 na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados no órgão de referência, podemos ler: “De acordo com a Agência Europeia do Meio Ambiente (AEA), estes foram responsáveis por mais de 50.000 mortes prematuras (52.300) na Itália somente em 2020, para uma estimativa de 462.300 anos de vida perdidos e quase 47.000 em 2021. Dados dramáticos que colocam a Itália em primeiro lugar em mortes prematuras causadas pela exposição ao PM2,5 e que também implicam enormes custos de saúde, especialmente em áreas como o Vale do Pó, onde há uma alta concentração de atividades emissoras, como a agricultura intensiva.

As 50.000 mortes prematuras, a maioria delas habitantes do Vale do Pó, estão amplamente

relacionadas com as emissões da agricultura intensiva”.

O PDL n.º 1760 “Disposições sobre a reconversão do setor pecuário para a transição agroecológica progressiva da agricultura intensiva”, que apela à reconversão da pecuaria intensiva, principalmente através do bloqueio de novas pecuarias intensivas e da prevenção do aumento da pecuária nas atuais, foi apresentado por 23 deputados, incluindo quatro de centro-direita, e tinha sido proposto em março de 2024 por cinco associações (Greenpeace, WWF, ISDE, Lipu e Terra!).

Certamente o documentário de 2024 sobre pecuaria intensiva de Giulia Innocenzi “ “Comida para lucro (Food for profit)”, que foi um enorme sucesso (foi transmitido também em rede nacional pelo programa Report), contou e impressionou muitos cidadãos sobre o tráfico mafioso dos lobbies no Parlamento Europeu e de muitos parlamentares europeus, que apoiam a predominância desta monstruosa pecuaria intensiva, tanto na Itália como nos países da União Euriopeia. Mas então comemos a carne que eles produzem, com resíduos de pesticidas proibidos na União Europeia e antibióticos administrados aos animais.

Sou um médico idoso, que também tratou de tumores no hospital, que são doenças crônicas, que nos chegam principalmente pelo que comemos, bebemos e respiramos.

Podemos todos acordar e lutar juntos? Ou Elena Cattaneo, senadora vitalícia desde 2013, a neurocientista pró-OGM, está, em última análise, certa, e vem dizendo há anos que nós, italianos, somos hipócritas e estúpidos, que não queremos cultivar (por enquanto) OGM na Itália, mas os comemos todos os dias (incluindo o glifosato)?


[1] Antonio Lupo, ISDE-Médicos pelo Ambiente, aderiu à campanha Conhecer da Esperança e Não do Medo

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