Trabalhadores/as da Educação da Rede Particular de Ensino de Belo Horizonte e RMBH, MG, pedem socorro!
Na nossa luta por justiça agrária, justiça urbana, justiça socioambiental, pela superação da fome, do racismo, da homofobia, do feminicídio, do patriarcalismo, do capitalismo etc, enfim, luta por direitos humanos fundamentais, está também a luta por uma educação emancipatória, preferencialmente pública, mas também com respeito aos trabalhadores/as que estão no sistema educacional privado. Tomei conhecimento, há alguns dias, da paralisação dos professores e das professoras da rede particular de ensino em Belo Horizonte e em outras cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte, MG. Dia 05 de setembro último (2023), terça-feira, em assembleia, esses trabalhadores/as da Educação decidiram permanecer parados, em greve, ao menos até segunda-feira, dia 11 de setembro de 2023, quando voltam a se reunir para decidir a continuidade ou não do movimento grevista.
O que se sabe, fato inconteste, é que os donos de escolas vêm apresentando à categoria, desde março deste ano (2023), propostas que precarizam vários dos seus direitos históricos, conquistados há muitos anos após muitas lutas de professores e professoras. Querem, por exemplo, alterar de forma prejudicial o adicional por tempo de serviço, a isonomia salarial e até o período das férias coletivas dos/as docentes. Também não ofereceram nada além da inflação como reajuste, apesar das mensalidades terem subido muito acima disso e da defasagem salarial da categoria ter chegado a cerca de 20% nos últimos anos.
Tudo isso, segundo os empresários da educação, tem a finalidade de manter a “sustentabilidade” das instituições. Que tipo de sustentabilidade? Dos índices de lucro? E a qualidade do ensino? E o cuidado e respeito com a dignidade humana dos/as profissionais da educação? Vejam que o discurso da sustentabilidade serve para tudo, até mesmo para tentar justificar o insustentável, qual seja: o desejo irrefreável de aumentar a margem de lucro do setor, mesmo que para isso seja necessário piorar as condições de trabalho e a vida dos/as professores/as. Em outras palavras: ganância travestida de “sustentabilidade”!
Por isso, os professores e as professoras têm paralisado suas atividades profissionais. Recorreram a um direito legítimo, previsto na Constituição Federal de 1988, o de “cruzar os braços” para denunciar a todos/as a enorme falta de valorização em suas vidas laborais e forçar os donos de escolas a deixar a retórica de lado e a buscar, efetivamente, um desfecho satisfatório que precisa ser de respeito e cuidado com a dignidade humana dos/as profissionais da educação.
Como bem me disseram professores/as: “Nossa luta é pela manutenção de nossas conquistas.” Estão parando para não perder direitos. Não é justo que passem por isso. E muitos temem ser punidos por estarem lutando pelos seus direitos.
Precisamos, enquanto sociedade, discutir mais profundamente a educação em nosso país, tanto a pública quanto a privada. De acordo com um estudo da OCDE (Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico), os professores e as professoras do Brasil têm os piores salários entre os 40 países do grupo. Isso sem contar com as condições inadequadas de trabalho, o acúmulo de atividades, as perseguições, o excesso de cobranças e demandas virtuais, a falta de apoio e de infraestrutura adequada, entre outros problemas.
Não é à toa que tão poucos jovens hoje, quando vão ingressar no ensino superior, pensam em se tornar professores/as. Trata-se de uma carreira em que o desgaste tem aumentado na mesma medida em que cresce a mercantilização do setor. Há pesquisas que demonstram o crescimento de uma forma assustadora do adoecimento de profissionais da educação: estresse, ansiedade, depressão, além das doenças físicas relacionadas aos esforços exigidos no dia a dia de trabalho em sala de aula.
Para ser emancipadora, a educação tem de ser antes de tudo cidadã. Mas como falar em cidadania em uma lógica em que o lucro prevalece sobre os direitos? Como falar em educação libertadora se os próprios professores e professoras estão presos/as em uma rede de exploração, desvalorização, sobrecarga de trabalho e baixos salários?
Precisamos apoiar nossos/as docentes! Se quisermos um futuro melhor para nós e para as próximas gerações, precisamos definitivamente dar mais atenção aos pedidos de socorro daqueles e daquelas que tanto se dedicam a partilhar e produzir conhecimento. Sem valorizar os professores e as professoras, não haverá qualidade do ensino. Não haverá profissionais qualificados no mercado de trabalho. Não haverá uma sociedade melhor, desenvolvida, humana, justa, acolhedora, sustentável ambientalmente e responsável com as próximas gerações.
Para finalizar, deixo aqui uma reflexão que já li em muitos cartazes de manifestações no Brasil e no mundo: “Quando tudo for privado, seremos privados de tudo”.
07/09/2023, dia do 29º Grito dos/as Excluídos,/as no Brasil.
Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto relativo ao tratado, acima, na mesma região.
1 – Educação para prática de libertação! – Por frei Gilvander Moreira
2 – Frei Gilvander no Ato Interreligioso da Educação. Educação que liberta. Sindute-MG, BH/MG – Vídeo 2
3 – Frei Carlos Mesters: CF/22 -Fraternidade e Educação. “Fala com sabedoria, ensina com amor”(Pr 31,26)
4 – Frei Gilvander apoia greve dos trabalhadores e trabalhadoras em Educação de Betim, MG 12 2 2020
One comment