Evangélicos – Por Padre Waldemir Santana, Arquidiocese da Paraíba

Domingo passado, o programa fantástico da rede globo exibiu uma reportagem sobre o crescimento dos evangélicos nas grandes cidades e no interior. O programa constatou o que as pesquisas, já vem verificando a um certo tempo.
Esse fenômeno do crescimento dos evangélicos tem que ser analisado não somente pelas estatísticas, mas por sua forma de evangelizar.
Como estas pequenas igrejas se estruturam? A reportagem entrevistou um pastor que vive na periferia do Recife, onde transformou a própria casa numa igreja. O pastor vive de uma forma bastante despojada, numa casa bastante simples, onde ele pode sentir na própria pele as necessidades dos seus irmãos e irmãs. Aqui está um elemento para entender esse crescimento.
A maioria das pessoas pertencem a essas pequenas igrejas de bairro. É uma verdadeira comunidade e os membros não passam de cem pessoas. O segredo dessas pequenas igrejas é que numa grande cidade, as pessoas que migraram para encontrar melhores condições de vida, por causa da desqualificação profissional são empurradas para as periferias, onde praticamente são invisíveis ou anônimos. Quando começam a frequentar a pequena igreja do bairro, eles recriam os vínculos de familiaridade, de solidariedade e passam a se conhecer pelo nome.
Com esse vínculo comunitário brota a ajuda mútua entre os membros da igreja. Quem está desempregado é ajudado nas suas necessidades imediatas, pois, a fome não pode esperar. A comunidade se mobiliza para procurar um emprego para o irmão ou a irmã que estão desempregados.
Fato não se discute, constata-se ou melhor interpreta-se. O Brasil está se tornando um país evangélico. O número de católicos vem diminuindo significativamente. A Assembleia de Deus é a igreja que mais cresce. Um dos segredos é que nessa igreja não existem grandes templos. São pequenas comunidades que produz uma capilaridade interessante. As duas colunas que sustentam essa experiência bastante interessante são: os laços comunitários e a dimensão espiritual. Os membros dessas comunidades são pessoas excluídas da sociedade, majoritariamente pretos e pobres.
A Igreja católica hoje deveria aprender essa lição da Assembleia de Deus. No passado recente as CEBS, faziam esse caminho de fortalecimento de pequenas comunidades, onde se partilhava a vida e a fé. Essa nova maneira da Igreja ser, como povo de Deus num clima de comunhão e participação conheceu um crescimento exponencial gigantesco no Brasil. Houve comunidades na região amazônica que passou anos sem ter a presença de um padre para celebrar a eucaristia, mas a experiência de CEBS que ali foi implantada fez com que a comunidade sobrevivesse e pudesse dar continuidade à sua vida de fé. As celebrações que a comunidade fazia, a partilha da vida e dos bens, fez com que essa comunidade superasse os momentos mais difíceis.
O que as pequenas igrejas estão realizando é o que disse o Papa Francisco: “ir às periferias geográficas e existenciais.” Essas igrejas estão reconstruindo a vida comunitária para esses irmãos e irmãs, dando um rosto aos que viviam no anonimato e acima de tudo, tecendo relações fraternas.
A Igreja católica está pagando um preço alto por ter perseguido as comunidades de base e ter feito de tudo para seu desaparecimento. Com os novos padres que estão sendo formados nos seminários, os remanescentes dessas experiências serão neutralizados até que entre num esquecimento eterno.