EM DEFESA DA DEMOCRACIA, SEM ANISTIA! Por Padre Francisco Aquino Júnior

EM DEFESA DA DEMOCRACIA, SEM ANISTIA! Por Padre Francisco Aquino Júnior

Padre Francisco Aquino Júnior, teólogo da Teologia da Libertação. Foto Reprodução

O atentado terrorista ao Supremo Tribunal Federal na noite de 13 de novembro é um alerta para o perigo de anistiar os golpistas de 08 de janeiro de 2023. Não é um surto psiquiátrico, nem é ato isolado. É parte de um movimento mais amplo de ataque às instituições do Estado Democrático de Direito pela extrema direita no Brasil e pelo mundo afora. Basta ver as redes sociais de Francisco Wanderley Luiz (Tiu França) e recordar que ele foi candidato a vereador em Rio do Sul (SC) pelo PL.

Anistiar os golpistas e seu ícone maior é favorecer a difusão de grupos extremistas, legitimar o terrorismo político e comprometer ainda mais nossa frágil democracia. As divergências, as disputas e os embates políticos são legítimos e até saudáveis numa democracia. Mas isso exige tolerância e diálogo entre as partes. E exige respeito pelas pessoas, pelas regras do jogo e pelo resultado das urnas.

A anistia é um instrumento político legítimo quando corrige injustiças e não põe em risco o bem comum, mas é uma perversão quando é fruto de conchavo político para favorecer interesses que atentam contra um bem comum como é a democracia. Não se pode anistiar golpistas e terroristas, como não se pode anistiar traficantes e estupradores.

E não se trata de ódio ou vingança, mas de responsabilidade social. Ódio e vingança corroem por dentro pessoas e sociedades. Alguém já disse que “o ódio é um veneno que se toma na esperança de que o inimigo morra”. É suicídio pessoal e social. Mas a alternativa a isso não pode ser indiferença ou cumplicidade com o mal. É preciso enfrentar o mal, por limites ao mal, impedir que continue atentando contra a dignidade humana, a justiça e a paz sociais e o bem comum. Por amor e não por ódio.

O amor tem uma dimensão social que se concretiza na defesa, na busca e na garantia do bem comum. Quando o bem comum é ameaçado, como no caso dos atentados golpistas e terroristas contra a democracia, sua defesa e proteção é um ato de amor.

Na Encíclica Fratelli Tutti: sobre a fraternidade e a amizade social, falando sobre “caminhos de paz”, o Papa Francisco escreveu uma bela e desconcertante página sobre o perdão. Recorda que perdão não significa “esquecimento” nem “impunidade”. Adverte contra a “tentação de virar a página, dizendo que já passou muito tempo e é preciso olhar adiante”.

E, ao mesmo tempo que insiste na universalidade do amor, afirma que “amar um opressor não significa consentir que continue a oprimir, nem levá-lo a pensar que é aceitável o que faz”, mas, “procurar que deixe de oprimir, tirar-lhe o poder que não sabe usar e o que o desfigura como ser humano”. Perdão não é cumplicidade com o mal.

Precisamos defender a dignidade humana dos golpistas e terrorista, como de todos os encarcerados. Mas não podemos confundir defesa da dignidade humana com relativização, legitimação e promoção de terrorismo político.

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