O que fazer quando a libertação tarda (Mt  25,1-13). Por Marcelo Barros

O que fazer quando a libertação tarda (Mt  25,1-13). Por Marcelo Barros

              No evangelho do 32º domingo comum do ano, de 12/11/23, – Mateus 25,1–13, a comunidade de Mateus coloca na boca de Jesus uma palavra sobre como animar as comunidades, quando elas se dão conta de que o reino de Deus não chega imediatamente, como mudança imediata que irrompe no mundo. Parece que as pessoas lutam, lutam e nada muda.

De fato, as primeiras gerações cristãs pensavam que o reino de Deus viria imediatamente para mudar a história. No Pai Nosso, diariamente, as pessoas oram: Venha a nós o teu reino. Jesus tinha prometido: Essa geração não passará sem que venha o Filho do Homem (Mt 24,34). 

           Quando os evangelhos foram escritos já tinham passado duas gerações e nada do reino chegar visivelmente. Jerusalém tinha sido destruída pelos romanos e os judeus obrigados a viver como migrantes estrangeiros nas nações pagãs. E nada da vinda do Filho do Homem.  Era preciso buscar nas palavras de Jesus alguma resposta para isso. 

              A maioria das parábolas de Jesus eram tiradas da vida comum. Provavelmente, a parábola contada neste evangelho reproduz um fato ocorrido naquele tempo. O eixo principal da história é uma festa de casamento, na qual o noivo atrasa. Nos casamentos atuais da sociedade, quem costuma atrasar é a moça. Naquele caso, foi o noivo. Jesus conta essa história para dizer que o reino de Deus é como o tal noivo que atrasou. O povo antigo tinha um ditado que dizia: Deus tarda, mas não falha. A parábola quer nos ensinar como lidar com o atraso da vinda de Deus no mundo. Hoje, há pessoas desencantadas com a Política. E há muitos decepcionados com a Igreja como instituição. Às vezes, parece que o próprio Deus e  Jesus provocam decepções.

               Quando hoje vemos um Estado fortemente armado e apoiado pelas grandes potências massacrar um povo indefeso e vemos nas mídias que Israel mata uma criança palestina em cada dez minutos, podemos nos perguntar: Onde está Deus?

Na Alemanha nazista, milhões de judeus foram mortos em campos de concentração. Muitos se perguntaram onde ficaram as promessas de Deus a respeito do povo eleito na Bíblia. Os evangelhos têm de buscar alguma resposta para essa pergunta. 

O trecho do evangelho de hoje faz referência a um costume para nós  estranho. Naquela época, o noivo ia buscar a noiva na casa dela. Ali, o esperava um cortejo de amigas da moça e esse cortejo acompanhava o casal até a nova casa onde iam morar. Essas moças iluminavam a festa com tochas acesas, alimentadas com azeite de oliva. 

           O evangelho de hoje conta que, naquele caso, cinco moças tinham garantido uma reserva de azeite nas suas vasilhas e outras cinco não. Como o noivo atrasou, algumas ficaram sem azeite. As dez moças representam a comunidade que espera o reino de Deus chegar, assim como o noivo que vem para casar. Essa alegoria quer nos dizer que a comunidade cristã deve viver em função do reino e do Esposo que vem e não da própria Igreja, que no caso, é representada pela esposa. Jesus aproveita o contexto cultural da sociedade patriarcal para dizer que a comunidade tem de ficar atenta aos sinais da vinda do reino de Deus no mundo e não ficar concentrada  na própria Igreja. 

Na história, as moças que tinham reserva de azeite não podiam repartir do seu azeite com as outras. Dizer que elas não podiam dar o azeite uma à outra é afirmar que ninguém pode amar no lugar de ninguém. A responsabilidade de se preparar para a vinda do reino é pessoal e intransferível.

Quando Jesus contou a história, ele não insistiu na vigilância (até porque todas dormem). O que ele pediu foi que estivessem prontas na hora em que o Esposo vem. O reino não vem logo como se esperava. Mas, é preciso vigiar e se manter preparados/as. 

Atualmente, na realidade que vivemos, de vez em quando temos a impressão de que novamente a libertação prometida está demorando demais. O Esposo atrasou e tarda a chegar. Através desse evangelho, a comunidade de Mateus nos responde: mantenham a lâmpada acesa e sempre com óleo para o momento que for preciso. É como se dissesse: vivam antecipando a utopia que vocês esperam. Isso se concretiza na palavra que Jesus disse no discurso da montanha: “Não são as pessoas que dizem Senhor, Senhor, que entra no reino, mas quem realiza o projeto divino” (Mt 7,21-23).

Não adianta essa religião centrada em missas, novenas e devoções. Nessa parábola, o  esposo da parábola fechou a porta do aposento nupcial e disse às moças que ficaram de fora: Não vos conheço! É exatamente a mesma palavra de Jesus no discurso da montanha: “Naquele dia, muitos me dirão: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7,22-23).

No comentário deste evangelho, Sandro Galazzi escreveu: 

Quem souber repartir, quem souber distribuir a comida aos que moram na casa, esse poderá tomar conta da casa e tomará posse dos bens de seu senhor. Vigiar é isso: cuidar da casa e dos seus moradores. Quando o noivo vier, mais ou menos tarde, ele vai fazê-lo entrar para participar das bodas. Bem-aventurado o servo ou serva que, quando vier, o seu senhor, encontrar fazendo assim” (Mt 24,46). 

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